Eu não queria te perder de novo, não queria abdicar dos direitos que minha fantasia conquistou depois de muito sofrimento.
Eu queria mesmo era, acender o fogo que estava começando a ser extinto, então, passo a passo eu viajei pelos lugares onde cruzamos, e em minha alma revivi as doces emoções, os terríveis martírios, tudo o que acabou formando nosso drama, nosso poema em que nós somos os protagonistas.
Eu ganhei. Eu consegui me opor aos efeitos do tempo; e neste instante, como naqueles que precederam sua traição, desfruto do prazer do meu infortúnio, saboreio o prazer do meu desespero.
Sem as tristezas do presente, o que esses dias de paixão inconsciente teriam sido para mim?
Acho que te amo somente pelo fato de saber que não me ama.
Afligir-me com a memória do nossa história de amor, torturar-me pensando em seus encantos para sempre perdidos, me dá um prazer mais vívido e mais intenso do que seus beijos; mais delícias do que a intoxicação que em minha carne produziu contato com a pele aveludada de suas coxas, as plasticidades vivas de seus seios, o ninho voluptuoso do seu pescoço, a curva imprevista do seu busto...
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Nossa união, a união de nossa carne, foi o trabalho de um talvez. Como os heróis das lendas wagnerianas, como Tristão, como Lohengrin, como Segismund, a única visão de sua beleza, inundou minha alma com desejos, e a dualidade do amor, começou entre nós e apenas cruzou as primeiras palavras de cortesia trivial.
Nos primeiros momentos de exaltação, aconteceu uma sensação horrível que produziu em mim dúvida; a depressão que emana, não do excesso de energias gastas, mas daquele estado especial de consciência que nos manifesta inferior à nossa felicidade e nos incomoda. E por uma razão de orgulho, renunciar ao que o querer humilha.
Eu queria recusar o seu amor e eu queria rejeitá-lo. Foi preciso toda a sua perversão de alma para que eu esquecesse minhas dúvidas e segurasse você com todos os meus desejos por seu corpo, com todos os meus desejos por ter você por perto.
Para tornar tudo em você adorável, seu amor é fruto da felicidade, e deste modo vou morrendo aos poucos.
Com as insinuações de uma hetaira, com a aeração de uma sacerdotisa Afrodite, você me ofereceu seu corpo virgem preenchido por Eros com os favores das delícias mais secretas... Um dia, cumprindo sua missão, sem dúvida, para mim, um mistério que se esconde dos mortais, me encontre sozinho, e eu não acreditei no seu abandono.
Foi necessário que o tempo passasse, que você mesmo, com a inconsciência de um ser iluminado, me asseguraria, para que eu soubesse que você não pertence mais a mim, isto só me tortura e remete ao passado, e que enquanto eu, infeliz mortal, choro e sofro, você, uma bela besta de prazer, nada te afliges.
Ao final posso dizer que você a mim é uma linda fantasia de amor e isto me motiva viver!
T. ORTS RAMOS.
Paris, 1 de junho de 1898.
Fragmento do livro , intitulado "Sensual e sentimental".
Notas do autor do Blog:
Este conto clássico encontra-se em um site de domínio público.
Feito uma tradução com reescrita para atribuir sentido, por Waldryano. Em Março de 2021.
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