23.2.21

Nova Capa

 Sei que os tempos são outros, e também compreendo perfeitamente que os períodos de testes já passaram, logo preciso estar aberto ao novo.

Todavia nesta fila, indo para um lugar cujo qual relutei e muito é complicado simplesmente aceitar o desconhecido...

— Boa tarde, bem-vindo a "Neues Leben", estou revisando aqui o seu prontuário há algumas observações a serem autorizada.
Adentrei no meu sistema e revisei conforme a atendente oferecia a opção. Na verdade, queria sair correndo, entretanto, era necessário e a única opção estar neste lugar para passar por este processo.

— Diga-me é indolor?

A atendente esboçou um sorriso, e disse:

— Claro que é indolor, ao repassar seus dados para uma rede interna, criaremos um cartucho, e você estará pronto para abandonar esta forma orgânica, e o nosso sistema fará ‘backups’ permanentemente dos seus dados em nuvens.

Terminei de assinar digitalmente os modos de autorização e adentraria na sala aonde iria de vez abandonar a minha humanidade para a imortalidade.

Tudo feito sentei em um confortável sofá branco e fiquei a esperar a minha vez, isto foi o suficiente para encher-me de ansiedade.

No meu sistema surgiu os meus créditos e as opções que poderia escolher. Minha nova capa, para reiniciar a minha vida. Era surreal. Um velho de 90 anos prestes a se tornar, um cartucho. Era eu isto.

Pensei primeiramente na primeira opção, que me parecia um ator de filmes de ação, era um corpo orgânico perfeito, os músculos estavam sobressalentes, como o preço também. Fiquei muito na dúvida em gastar todos os meus créditos com uma capa daquele patamar.

Ao relutar vi o pior acontecer. Apareceu,: Vendido, logo, não seria a minha capa, fui fazendo buscas e mais buscas.

— Como seria o meu novo rosto neste mundo que estava prestes a conhecer?

Pareceu um aviso que estava atrasado e que outros usuários esperavam a minha escolha.
Folhei nas abas, entre asiáticos, negros, ruivos, e não encontrava um corpo que me representa-se.
Apesar das várias opções orgânicas ali, nada representava o meu rosto e sabia que precisava escolher.

Escolhi um moço de 30 anos, era bem apresentável, realmente o pacote não era completo, todavia restaria algum crédito para recomeçar.

Ao entrar na sala, começou a conexão, vários fios fixados no meu cérebro. A morte orgânica nunca foi tão entrelaçada.

Tudo tão limpo e claro para a minha morte.
Por mais usual que o processo já era, não estava preparado, calafrios passavam no meu corpo.

Olhar a frente e compreender que a minha vida se resumiria a um invólucro dentro daquele vidro logo próximo a mim, era muito estranho.

O enfermeiro disse:

— Calma é indolor, daqui a pouco sentir-se-á um novo homem, eu mesmo passei mês passado pelo processo e confesso, foi maravilhoso.

Fechei os olhos o processo iria começar...


Escrito por Waldryano


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