12.4.21

Chapeuzinho Roxo




Mais um dia de trabalho, preciso me apressar, para buscar a minha filha na casa da tia. Hoje as gorjetas foram boas, certamente poderei inteirar para conseguir pagar o colégio dela. Pelo menos este mês esta garantido.
— Sua pele não esta nada boa, estas olheiras aí afugentam clientes, dizia Margo. Trazendo um balde com água gelada.
— Vai, enfia esta cara aí, pifa, para dar uma esticada nesta cara, pois a próxima é você. Odiava a Margo, estava com os meus vinte e três anos, e precisava sair desta vida urgente.
De rosto lavado, tomei uma dose de vodca, para ficar leve. E vesti o meu traje de trabalho.
Após. Coloquei um sobretudo preto. A musica da minha apresentação começou a tocar.
Veio Margo, outra vez retocar um batom que tinha ficado meio borrado, e jogou um pouco de Glitter, no meu cabelo.
— Vai lá pifa, domina este palco que é teu, aproveita que a tua carinha ainda é bem requisitada.
Dei uma risadinha sem graça, e disse: — Só mais um golinho, hoje preciso dobrar estas gorjetas.
Nem liguei para o olhar de reprovação das que eram as coadjuvantes. Beijei a foto da minha filha coloquei no meu peito, embaixo do sutiã e fui, precisava ser a Chapeuzinho Roxo, mais uma vez para aqueles marmanjos e precisava: E como, de dinheiro, e é do bolso deles que viria.
A musica era inebriante, eu começava a observar, qual seria o pato da noite.
Alguns grupinhos de pobretões, sempre tinha, precisava em focar na grana, e não era por ali que encontraria.
Um homem misterioso começou a me observar.
No poli dance, começava a tirar vagarosamente as luvas, já aparecia o pato que eu tanto queria. Um que pelo entendi, na conversa inebriada a bebida, estaria se casando. Seria eu o presente de despedida de solteiro.
Olhei de longe, Margo fazia sinal que era para ele que precisava dar as minhas atenções.
O homem misterioso voltou a me olhar, desta vez vi bem, parecia que este tinha lentes de contatos, o olho dele era de gato.
Pera, o olho dele começava a transluzir, ao apagar e ascender das luzes, e quando a fumaça começou a tomar conta do show. Ele desapareceu.
Estava começando a ver coisas, provavelmente exagerei na bebida.
Já estava com o pato, fisgado, pegava na sua gravata, rodando aqui e ali, era um pato novo, bonito, até me animei com ele pense?
A Margo frenética, pediu para uma ajudante vir buscar as gorjetas, eu olhava para ela com olhar de consternação, era muito dinheiro, e eu precisava do meu.
Desci até o chão tirei o meu sobretudo, estava no ponto alto  da apresentação. Rolava no poli dance. A Margo, fez o sinal de parar, disse em meio aos códigos. Que conseguira Mil reais de gorjeta.
Engraçado? Não parecia tanto.
Dei uma mordida no queixo daquele desajeitado. E a música acabou, vesti o meu sobretudo, a tempo de dar uma leve chicotada no bumbum daquele depravado. — Aproveite a sua noiva, hoje, pequeno. Disse e sai em meio a aplausos e frenesi.
Margo veio e me disse:
— Pifa de onde veio tanto dinheiro, tome o seu, hoje você foi divina!
Divina eu? "Bicha invejosa." Sorri peguei o dinheiro e sai daquela boate, afim de descansar, e buscar a minha filha Lorena, de seis anos, que estava na casa da tia.
Já tinha inventado milhares de desculpas para ela. Chegar às 2 da manhã para buscar a filha era muito arriscado.
Adentrei no beco escuro que morria de medo, porém era o modo mais rápido de chegar na casa da tia e desta vez a minha amiga, que sempre me acompanhava não estava. Era eu e Deus naquela escuridão.
Abri a bolsa e vi que o batom estava lá.
Apertei, era bem forte a voltagem, se alguém chegasse perto levaria um choque que derrubaria um boi, assim disse o vendedor, quando comprei.
Seria hoje o dia de usar?
Guardei o dinheiro na meia calça embaixo do sapato. Até mesmo esta Margo Laza, poderia vir querer tirar mais de mim, pensei.
Era eu e Deus naquele beco.
Apressei o passo, uma quadra e já subia buscar a filha.
De repente, uma escuridão. Um bendito apagão, logo naquele momento.
Olhei para trás era ele. Estava me seguindo.
Eu corri.
Olhei para trás, ele tinha sumido, o homem com olho de gato.
Suava frio.
Voltei a olhar para frente, e tropecei caindo no chão, rasgando a meia calça.
Senti ele me segurar.
O meu braço estava sendo machucado, peguei da bolsa que caíra ao chão, o batom e apertei.
Tentava alcançar o moço que disse:
— De nada adianta comigo, isto moça. preciso de você e agora.
Abriu uma fenda de luz, ele puxava-me com força para aquilo, que parecia sugar as coisas próximas.
— Não moço, pelo amor de Deus não! É dinheiro? Tirei o sapato arranquei da meia calça. Era bastante, ele precisava me liberar daqui.
— Tome! Eu tenho uma filha, por favor não!
De nada adiantou, ele me puxou e ambos estávamos indo para aquela luz forte, e assustadora. Mal sabia eu o que iria encontrar. 



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