28.3.21

A Semente

Vida na prostituição tem destas coisas. Por mais que você tente se precaver, uma ou outra vez você falha.

Dizia a minha cafetã, que tanto preservava pela nossa "integridade" queria moças belas e sem barriga para poder servir aos clientes.

— Você esta atrasada não é? Eu sei, amiga, não adianta esconder você esta grávida - dizia a minha companheira de quarto neste bordel.

E foram meses e meses escondendo o inevitável, realmente era gravidez. Tentei de todos os modos abortar por conta própria, mas não consegui.

Agora com o endereço em mãos e uma gestação de três meses, preciso resolver este problema e urgente, a vida de prostituta não pode ser paralisada por uma barriga.

Olho para a fila e já esta chegando a minha vez. Espero que seja rápido e indolor.
Quando entrei na Clínica clandestina assustei com o modo que tratam as moças, é o que tenho para pagar, mas precisava ser tão rústico isto?

Fiz uns exames, e a hora do aborto chegou. Preciso ser rápida, a noite necessito voltar a atender os clientes e a minha cafetina não precisa saber do meu deslize.

O Doutor olhou para o meu exame, conversou com duas pessoas e me convidou para entrar em outra sala.

— Eita, isto não esta me cheirando coisa boa não. 
— Espere aqui, seu caso é um pouco diferente das demais.

Ao adentrar sentei no sofá que era branco e agora parecia-me em outra Clínica, bem mais moderna do que o muquifo que eu estava.
Uma mulher muito elegante com corte de cabelo channel veio e disse-me:

— Sua genética é rara mocinha, auto imune de várias doenças inclusive venéreas, até mesmo a Aids e o Ebola você é auto imune.

Eu sabia que não pegava resfriado fácil, todavia, Aids? Era demais.
Eu só quero abortar esta criança e voltar para o meu bordel senhorita. E já paguei o procedimento, logo, faça-o preciso voltar para o meu trampo.

— Você gosta de dinheiro não é?
— Claro, é necessário.
— Você nos venderia a sua criança?
— Vender criança? Seria a maluca uma fumante ou drogada? Precisava tirar de mim logo isto aqui.
— Não estou interessada, preciso tirar. O povinho que eu lido, não admite barriga, viu? E até podem me matar, povinho de gueto é deste tipo. Preciso fazer logo o procedimento.

Ela sorriu, veio e passou a mão no meu cabelo, que estava detonado devido a tanta tinta que eu colocava nele.

— É pra tirar queridinha, mas vivo seu filho para um experimento.





Foi assustador! O que veio depois? Meu filho foi retirado de mim, voltei ilesa para o bordel, e parecia que nem tinha passado por aquela espécie de sucção. Estava com o corpo tão bem delineado quanto dos dias de que não estava embuxada.

Entretanto eu acompanhei o processo e vezes por semana visitava um  laboratório, afim de observar o meu embrião crescer.

— Seu filho é a esperança da humanidade, dizia a Doutora que se afeiçoou por mim.
​​​​​​​
Olhava na redoma de vidro meu filho tomando líquidos que eram para ser dados pelo meu ventre.

Depois de todos os testes, fui liberada, meu filho e mais alguns filhos de: prostitutas, mulheres camponesas, e diversas outra mulheres do mundo. Foram "embrionados" naquele laboratório.

O anúncio veio. E assustou a todos os moradores da Terra. A rota de colisão era inevitável.

Os embriões foram lançados ao espaço no projeto Gênesis. Somente crianças com uma genética privilegiada sobreviveriam a criogênia.

Iriam desbravar o Universo até o seu local destino. Um planeta que já estava sendo disposto para os novos moradores.

Robôs artificias, com a tecnologia de impressão 3D faziam a nova casa, no local distante.

Quando o grande dia do Apocalipse da Terra chegou, eu sorri, pois soube que através do meu filho, a vida continuaria.



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