Era uma tarde comum, e Miguel, um garoto de apenas sete anos, estava deitado em sua cama, cercado por seus brinquedos coloridos. O sol filtrava-se pelas cortinas, lançando raios dourados que dançavam no chão. Ele fechou os olhos, sonhando com aventuras em mundos distantes, aonde dragões voavam e heróis salvavam o dia. Mas, ao abrir os olhos novamente, a luz tinha mudado.
Miguel não estava mais em seu quarto. Em vez disso, encontrou-se deitado em uma cama estranha, cercado por paredes brancas e frias. O cheiro do ambiente era diferente, um aroma pungente que evocava a mistura de remédios e desinfetantes. Ao olhar ao redor, percebeu que não havia brinquedos. Em seu lugar, havia fotos amareladas de pessoas desconhecidas e flores secas em um vaso.
Miguel se levantou lentamente e olhou para o espelho à sua frente. O reflexo que viu era o de um homem idoso, com cabelos brancos e um rosto marcado pelo tempo. Ele não conseguia compreender como isso era possível. Onde estavam sua mãe e seu pai? E seus amigos? Ele tentou se lembrar do que havia acontecido antes de acordar ali, mas as memórias pareciam flutuar como folhas ao vento.
Com o passar dos dias naquele lugar — um asilo — Miguel começou a perceber que sua mente estava confusa. Pessoas conversavam em sussurros ao seu redor; algumas riam, outras choravam. Ele sentia sua própria memória se dissipando como fumaça. Cada dia parecia igual ao anterior: os mesmos rostos, as mesmas conversas repetitivas. Miguel lutava contra a demência que o envolvia como uma névoa densa.
Então, em uma manhã ensolarada — embora ele não pudesse dizer quantos dias haviam se passado — algo extraordinário aconteceu. Enquanto observava o jardim através da janela do seu quarto, uma luz intensa invadiu o ambiente. Era como se o sol tivesse descido para tocá-lo. A luz envolveu seu corpo e sua mente em um abraço caloroso e acolhedor.
E então… tudo mudou.
Quando a luz se dissipou, Miguel abriu os olhos novamente. Desta vez, ele estava consciente de quem era; a confusão havia desaparecido como um sonho ruim ao amanhecer. Lembrou-se de sua infância: os risos com os amigos, as brincadeiras no parque e as histórias contadas antes de dormir. A demência que o aprisionava havia sido curada!
Mas algo estava diferente — ele ainda era aquele senhor de oitenta anos olhando para si mesmo no espelho. No entanto, dentro dele pulsava a essência vibrante de uma criança curiosa. Ele percebeu que tinha saltado através das idades: do menino sonhador ao homem sábio e agora de volta à vida.
Miguel começou a explorar o asilo com novos olhos; cada canto escondia lembranças esquecidas que agora faziam sentido novamente. Ele falava com os outros moradores como se fosse um velho amigo reencontrado após muito tempo. As conversas fluíam naturalmente; histórias de vida eram compartilhadas entre risos e lágrimas.
Então veio o dia da partida.
Uma nave brilhante desceu suavemente no pátio do asilo; sua superfície refletia o céu azul acima como um espelho mágico. As portas se abriram com um suave zumbido, revelando um interior acolhedor repleto de luzes suaves e sons melodiosos.
— Você está pronto para voltar para casa? — perguntou uma figura etérea que parecia estar esperando por ele.
Miguel sorriu, sentindo-se leve como nunca. Ele deu um último olhar para aqueles rostos familiares — aqueles que agora eram parte dele — e entrou na nave.
— Sim! Estou pronto! — respondeu ele com entusiasmo infantil.
A nave elevou-se suavemente do chão enquanto Miguel olhava pela janela. O asilo se tornava cada vez menor até desaparecer completamente na imensidão do espaço.
E assim ele partiu para novas aventuras entre estrelas distantes, levando consigo a sabedoria da idade e a alegria da infância; tudo isso enquanto finalmente retornava para casa.